segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Encontro com milton Santos ou mundo global Visto do lado de cá




Milton Santos era genial! Homem educado, fino e elegante. Suas falas eram precisas, fortes, carregadas de sentido e de emoção. Em suas aulas, palestras e conferências, sabia conduzir o público como ninguém, prendendo a atenção de todos. Um bate papo com ele, nada melhor!
Silvio Tendler fez um filme inteligente, bem à altura do homenageado. 

Trata-se de um documentário que enaltece a capacidade interpretativa de Milton Santos diante de um mundo em processo acelerado de transformação. Toda a experiência do cineasta se manifesta na universalização da linguagem. Imagem, texto, narração e trilha sonora se entrosam de forma magnífica. Milton era o protótipo do cidadão universal. Essa condição exigia dele uma leitura rigorosa da realidade, que emergia do inconformismo com a dor e a miséria do mundo. Sua forte capacidade de se indignar e de denunciar foi capturada pelas lentes de Sílvio Tendler. Munido do discurso do mestre geógrafo buscado em entrevistas ou em edição de pronunciamentos em eventos, Sílvio faz o contraponto com um cenário em que a globalização mostra toda sua crueldade. O foco está sempre sobre Milton que vai balizando seu pensamento, à medida que o diretor enxerta cenas duras do cotidiano de milhões de pessoas principalmente na América Latina e na África, bem como depoimentos de outras personalidades. Falas e imagens do centro e da periferia revelam o dinamismo do processo de sujeitos sociais protagonistas dos tempos agonizantes da globalização. Milton se refere com freqüência a globalitarismo, expressando a forma autoritária com ela se instala no mundo expropriando várias dimensões da vida. O processo de resistência é um ponto forte do filme. Flashs de manifestações contra a ação dos grandes grupos que controlam o capital em vários setores seja na tentativa de privatizar o abastecimento de água, seja na indústria de cultura de massa. A insurgência aparece mostrando formas inventivas que alimentam a crença no porvir. Milton Santos não é um derrotista. Ele credita à esperança a promessa de um mundo melhor, mais justo, mais solidário. O documentário angustia. A gente sofre na seqüência do filme. Milton é duro. Entretanto, ele semeia a crença no futuro. Ele vê a possibilidade de luz no fim do túnel.


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